segunda-feira, 25 de março de 2013

Segredos da aprendizagem da leitura

Seu aluno enfrenta problemas para aprender a ler? Ele conhece as letras do alfabeto? Sabe qual é o P, qual é o A, qual é o T e qual é o O, mas, quando você tenta levá-lo a juntar as letras para formar sílabas ou ao juntar sílabas para formar palavras, ele fica confuso e responde qualquer coisa que lhe vem à mente, menos PA - TO?
Ele não é a única criança que sofre dessa dificuldade. Sabemos que existem muitos fatores que podem levar um aluno a não conseguir juntar as letras ou sílabas, mas vamos nos demorar um pouco na importância das aquisições perceptivas, linguísticas e cognitivas necessárias para que ele chegue ao ponto da leitura bem-sucedida.

Aquisições visuais


Vítor da Fonseca, em seu livro Introdução às dificuldades de aprendizagem (Porto Alegre: Artmed, p. 174), afirma que “dentro dos fatores psiconeurológicos mais negligenciados no estudo das DA (Dificuldades de Aprendizagem), emergem as disfunções no processamento da informação auditiva e visual e na integração auditivovisual e visuoauditiva.” (grifo nosso)

No mesmo livro, na página 181, Fonseca aponta para a posição de Marianne Frostig, que afirma que, para a criança chegar ao nível da leitura, sua visão precisará ter estruturado uma hierarquia sensorial iniciada na primeira infância, atingindo os seguintes componentes:

(Imagem: )










 
Portanto, caso haja qualquer disfunção em algum desses componentes, a habilidade da criança para a leitura ficará comprometida.

Quando a criança começa a ler, “realiza cerca de 240 fixações oculares na leitura de um texto de 100 palavras. Mais tarde, quando a leitura é já automatizada, as fixações baixam para 80 (leitor de liceu)” (Ibid, p. 182). O autor continua dizendo que no início da leitura ela consegue compreender cerca de 75 palavras por minuto - no liceu, 298 por minuto. “As pré-aptidões em nível visual e em nível auditivo são fundamentais, daí o papel de privilegiá-las em programas e currículos escolares hierarquizados.” (Ibid, p. 182)

Aquisições auditivas 


Em 1979, Fonseca desenvolveu o diagnóstico das aquisições perceptivoauditivas (Dapa), que serve para identificar essas aquisições e detectar possíveis problemas na percepção auditiva. 

“As perturbações na percepção auditiva são frequentes nas crianças em idade escolar, independentemente da sua normal audição, das suas avaliações audiométricas normais e da sua conversação normal. Não basta uma audição normal em termos de aprendizagem e de evolução escolar adequada, convém atender ao processo de informação sensorial em todos os seus aspectos receptivos, integrativos e expressivos.” Idem, p. 188, 189. 

A seguir apresentamos o Diagnóstico das Aquisições Perceptivoauditivas (Dapa) conforme apresentado no livro já citado, nas páginas 188 a 192. O livro foi editado em português de Portugal; portanto, algumas palavras soam um pouco diferentes, mas o sentido é perfeitamente compreensível.

Diagnóstico das aquisições perceptivoauditivas (Dapa) 

Processo auditivo

“A identificação das áreas fortes e fracas, no processo da linguagem falada, pode prever a utilização de estratégias educacionais compatíveis e ajustadas às necessidades educacionais das crianças” (Ibid, p. 189). Vitor da Fonseca continua explicando que seu diagnóstico permite ao professor formular um planejamento capaz de perceber crianças com necessidade de uma “análise mais rigorosa das suas aquisições perceptivoauditivas” (Ibid, p. 189). Ele continua dizendo que esse diagnóstico pode ser aplicado a crianças a partir da pré-escola.
 
Aquisições linguísticas e cognitivas

Fonseca mostra a necessidade de o professor compreender o que é o processo da leitura. Como numa sentença matemática, ele sugere:

LEITURA = símbolo visual + símbolo auditivo + significado
    
“A complexidade da leitura é o resultado da combinação de inúmeras aptidões que traduzem a hierarquia do desenvolvimento da linguagem. [...] Para aprender a ler a criança necessita de descodificar as letras impressas utilizando um processo cognitivo que permite traduzi-las em termos de linguagem falada e em termos de significação linguística” (Ibid, p. 345).

À página 176, Fonseca apresenta esta lista de aquisições que o cérebro reclama para que o sujeito seja capaz de ler:

  • Controle postural e da atenção;
  • Seguimento de orientações e direções visuoespaciais (de cima para baixo em termos de linhas horizontais e da esquerda para a direita em termos de descodificação e sequencialização de letras e palavras;
  • Memória auditiva;
  • Sequencialização e ordenação fonética;
  • Aquisições para descodificar palavras (word attack skills - “ataque” de palavras);
  • Análise estrutural da linguagem;
  • Síntese lógica e interpretação da linguagem;
  • Desenvolvimento do vocabulário;
  • Expansão e generalização léxica;
  • Aquisições de escrutínio e de referenciação léxicossintática.

Isso não acontece da noite para o dia. Requer “um longo tempo de aprendizagem e de automatização” (Ibid, p. 176). 

À página 202 do mesmo livro, Fonseca apresenta um modelo em cascata da hierarquia da linguagem, da autoria de Myklebust, que reproduzimos abaixo. Com isso, finalizamos nosso estudo, na esperança de ter contribuído para o leitor compreender melhor os “segredos” por trás da aprendizagem da leitura. 



FONTE:http://www.educacaoadventista.org.br

(Imagem: )

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