Desde a faculdade já discutíamos bastante sobre as datas comemorativas na escola, nos víamos loucas, com tanto conteúdo pra dar conta e ainda tendo de legitimar as datas comemorativas de um modo pouco proveitoso para nós e nossos alunos. Há muitos anos li esta matéria da Nova Escola, agora ela reapareceu no meu facebook, é muito boa! Pra ler e refletir!
10 erros mais comuns nas festas escolares
Aulas perdidas, desrespeito à diversidade cultural e à liberdade religiosa... Saiba como evitar esses e outros equívocos
Durante o ano, temos 11 feriados nacionais - na média de um a cada 
cinco semanas -, um monte de datas para lembrar pessoas (Dia das Mães, 
dos Pais, das Crianças, do Índio) e fatos históricos (Descobrimento do 
Brasil, Proclamação da República). Sem contar os acontecimentos de 
importância regional. Nada contra eles. O problema é que muitas vezes a 
escola usa o precioso tempo das aulas para organizar comemorações 
relacionadas a essas efemérides. O aluno é levado a executar tarefas que
 raramente têm relação com o currículo. Muitos professores acreditam que
 estão ensinando alguma coisa sobre a questão indígena no Brasil só 
porque pedem que a turma venha de cocar no dia 19 de abril - o que, 
obviamente, não funciona do ponto de vista pedagógico. 
Festas são
 bem-vindas na escola, mas com o simples - e importante - propósito de 
ser um momento de recreação ou de finalização de um projeto didático. É a
 oportunidade de compartilhar com os colegas e com os familiares o que 
os alunos aprenderam (leia mais no quadro abaixo). No entanto, não é 
isso que se vê por aí. A seguir, os dez principais equívocos dos eventos
 escolares.
1. Usar as datas festivas como base para o currículo
Essa
 palavra estranha tem origem na astronomia e dá nome a uma tabela que 
informa a posição de um astro em intervalos de tempo regularmente 
espaçados. No popular, o termo é usado no plural e significa a seqüência
 de datas lembradas anualmente. Algumas têm dia fixo (Independência, 
Bandeira); outras, não (Carnaval, Dia das Mães). Até aí, nada de mais. O
 problema é quando a escola usa tudo isso como base para montar o 
currículo. "Planejar o ano letivo seguindo efemérides desfavorece a 
ampliação de conhecimentos sobre fatos e conceitos", afirma Marília 
Novaes, psicóloga e uma das coordenadoras do programa Escola que Vale, 
de São Paulo. Exemplo? Dia do Índio. A lembrança não envolve estudos 
sobre as questões social, histórica e cultural das nações indígenas 
brasileiras. Para haver aprendizagem, é preciso muita pesquisa e mais do
 que um dia festivo. Outro caso? Folclore. A escola é invadida por 
cucas, sacis e caiporas em agosto, já que o dia 22 é dedicado a ele por 
decreto. Ora, se o planejamento prevê o uso de parlendas e trava-línguas
 durante o processo de alfabetização e de estruturas narrativas, no 
ensino de Língua Portuguesa, que tragam informações sobre tradições, 
crenças e elementos da cultura popular, isso basta para que o tema seja 
tratado em qualquer época. Sem contar os tópicos cuja expressividade é 
questionável (Semana da Primavera) ou controversa, como o Dia dos Pais e
 o das Mães: "Enfatizar datas comerciais como essas é ignorar as 
mudanças no perfil da família brasileira, que nem sempre conta com as 
duas figuras em casa", completa a psicóloga.
2. Desrespeitar a liberdade religiosa 
Dos
 11 feriados nacionais, cinco têm origem no catolicismo (Páscoa, Corpus 
Christi, Nossa Senhora Aparecida, Finados e Natal). As escolas que 
seguem essa religião lembram as datas. O problema é que as escolas 
públicas também. Segundo a Constituição da República, o Brasil é um 
Estado laico, ou seja, sem religião oficial. Porém, em quase todas as 
unidades de ensino há algum tipo de comemoração: as crianças da Educação
 Infantil (não importa se têm ou não religião) se fantasiam de coelhinho
 e pintam ovos em papel mimeografado. No fim do ano, uma árvore de 
Natal, com bolas e luzes, é montada na recepção ou no pátio. Segundo o 
censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nos
 anos 1990, a maioria da população brasileira (73%) é católica. Mas uma 
escola inclusiva não esquece que os filhos dos 15% de evangélicos e dos 
12% de seguidores de outros cultos ou não pertencentes a um deles também
 estão na sala de aula, certo? Para Renata Violante, consultora 
pedagógica do Instituto Sangari, em São Paulo, os educadores não podem 
dar a entender que uma religião é superior a outra (quais são mesmo as 
datas importantes para espíritas, judeus, budistas, islâmicos e tantos 
outros?). Existem espaços próprios para cultos. Definitivamente, a 
escola não é um deles. As festas juninas são um caso à parte: elas se 
tornaram uma instituição e perderam o vínculo religioso. O enfoque 
folclórico, resgatando alguns hábitos e brincadeiras e a culinária do 
homem do campo, tornaas mais democráticas.
3. Confundir o currículo e o tema da festa 
A
 festa não ter relação com o currículo é um problema. Mas outro tão 
grave quanto é usá-la como pretexto para ensinar. "Já que temos de fazer
 bandeirinhas para enfeitar barraquinhas, então vamos aproveitar para 
ensinar geometria", pensam alguns professores bem-intencionados, 
esquecendo que um ensino eficiente requer planejamento, avaliação 
inicial e contínua e uma seqüência lógica que leve à construção do 
conhecimento. É como se, de repente, estimar a quantidade de pipocas no 
saquinho virasse conteúdo de Matemática.
4.  Subaproveitar as aulas de Arte 
Não
 raro, o espaço que seria utilizado para essa disciplina é convertido em
 oficina de enfeites. Para colocar o aluno em situação de aprendizagem, é
 papel do professor de Arte propor atividades que favoreçam o percurso 
criador. "A subjetividade não pode ser ofuscada pelo sentido objetivo e 
funcional do ornamento, com caráter unicamente estético", afirma José 
Cavalhero, coordenador pedagógico do Instituto Rodrigo Mendes, em São 
Paulo. Na confecção de bandeirinhas, por exemplo, as crianças são 
orientadas a seguir um modelo preestabelecido sem dar espaço a suas 
marcas pessoais nem enfatizá-las. O modelo, que serviria apenas como 
referência para a elaboração de outras possibilidades, vira matriz para 
cópias - e a arte é um procedimento mais abrangente do que isso. A 
produção do estudante deve ter um propósito maior do que atender à 
expectativa do professor. "Caso a ocupação do ambiente festivo seja 
encarada como uma instalação ou intervenção artística, aí, sim, o aluno 
aprende em Arte", afirma Cavalhero.
5.  Estereotipar os personagens 
Caipira
 com dente preto e roupas remendadas em junho, cocares e instrumentos de
 percussão em meados de abril. Esses estereótipos não correspondem à 
realidade. Homens e mulheres que moram no interior não se vestem dessa 
maneira, e os índios brasileiros vivem em contextos bem diferentes. "É 
inconcebível se divertir com base em elementos que remetem à humilhação e
 à ridicularização do outro", diz Mario Sérgio Cortella, filósofo da 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em sua opinião, essas 
práticas destoam da intenção educativa acolhedora e pluralista, pois, 
toda vez que se trata o outro com estranhamento, se promove a idéia de 
que há humanos que valem mais e outros, menos. "Quadrilha, sim, mas sem 
maquiagem nem fantasias grotescas que humilhem o homem do campo", 
completa Cortella.
6. Obrigar todos a participar
"Professora,
 não quero dançar", diz um. "Tenho vergonha de falar na frente de todo 
mundo", avisa outro. Quem já não ouviu essas frases dias antes de um 
evento escolar? Quando a festa nada tem a ver com a aprendizagem, os 
alunos não são obrigados a participar. Nesses casos, é proibido causar 
qualquer tipo de constrangimento a eles. Cabe ao professor colocar pouca
 ênfase nos momentos não relacionados ao aprendizado. "Imagine o que uma
 criança sente quando é colocada à força no meio da quadrilha. É uma 
atitude desrespeitosa com os sentimentos e a individualidade dela", 
afirma Maria Maura Barbosa, do Centro de ocumentação para a Ação 
(Cedac), de Paraupebas, a 700 q uilômetros de Belém. Ela afirma ainda 
que alguns pais optam por não se envolver por razões financeiras. "Quem 
não tem condição de arcar com uma fantasia para os filhos fica 
envergonhado e não participa. Fala-se tanto em inclusão, mas as festas 
às vezes excluem."
7. Não ter uma finalidade certa para os recursos arrecadados
Pequenas
 reformas, mobiliário novo, material pedagógico... Quando a verba que 
vem da secretaria não dá para comprar tudo, pensa-se em festa para 
arrecadar fundos. A comunidade é convidada, participa, gasta, e muitas 
vezes não fica sabendo o destino dos recursos. Pior, às vezes o dinheiro
 que seria usado na ampliação da biblioteca ou na compra de computadores
 vai para outro fim. A solução é divulgar o objetivo da iniciativa e 
prestar contas quando o bem for adquirido. Em tempo: a arrecadação 
sempre aumenta quando bebidas alcoólicas são vendidas. Renata Violante 
não acredita em meio-termo: "A bebida deve ser proibida. Os diretores 
que inventem outras maneiras de obter mais dinheiro".
8. Ter como objetivo principal apenas atrair os pais
Eles
 não costumam ir às reuniões, não conversam com os professores sobre o 
avanço dos filhos e mal conhecem a escola. Os diretores pensam: "Quem 
sabe, para se divertirem, os pais venham até nós". Embora os momentos de
 confraternização com os familiares sejam importantes, eles não devem 
ser a única maneira de envolvê-los. Reuniões marcadas com antecedência e
 planejadas para compartilhar o processo de aprendizagem e a produção 
intelectual, artística e esportiva das crianças são as iniciativas que 
exibem os melhores resultados quando o objetivo é atrair e conquistar as
 famílias.
9. Usar as festas como única maneira de socializar a aprendizagem
Um
 dos objetivos da escola deve ser exibir a produção intelectual e 
artística do aluno, principalmente aos pais, nas mais variadas ocasiões.
 Fazer uma festa é apenas uma possibilidade, por isso não deve ser usada
 em excesso. Geralmente, o caráter de recreação costuma dificultar a 
apresentação dos saberes. "Já feiras e exposições favorecem o foco no 
conhecimento e permitem ainda situações de comunicação oral formal, 
importante maneira de compartilhar o aprendizado", explica Maura 
Barbosa, do Cedac. Exemplos: um seminário sobre um conteúdo trabalhado 
em Ciências ou um sarau de poesia. (E, depois disso tudo...)
10. Jogar tempo fora
Usar a 
sala de aula ou o período que deveria ser dedicado a atividades 
pedagógicas para os preparativos é um desrespeito com as crianças e com o
 compromisso que a escola tem de ensinar. "O diretor raramente investe 
na ref lexão sobre os indicadores de aprendizagem dos alunos o mesmo 
tempo que gasta com a produção dos eventos. O professor, por sua vez, 
deixa de promover situações intencionais de ensino", afirma Maura. Se a 
festa não é concebida como maneira de contextualizar os conteúdos 
aprendidos, ela deve ser organizada sempre em horários alternativos aos 
das aulas.
Tem de ter festa!
Ninguém
 é contra festas, desde que elas sejam para recreação pura e simples ou 
uma maneira de socializar o aprendizado. As do primeiro tipo podem 
envolver todos e ser muito divertidas, desde que não ocupem o tempo de 
sala de aula na organização. Já as que são planejadas para finalizar o 
estudo de determinado conteúdo exigem muito preparo. Quando o evento faz
 parte do projeto didático, o tema precisa ser previsto no currículo (e é
 dispensável a relação com efemérides) e nada mais justo do que usar o 
tempo de sala de aula para a sua produção (que também envolve 
aprendizado). Antes de bolarem o evento junto com o professor, os alunos
 certamente serão convidados a pesquisar, levantar hipóteses, realizar 
diversos tipos de registros e trocar conhecimentos com os colegas. Já 
que a festa é uma das etapas do processo, fica proibido deixar alguém de
 fora. Se um aluno não quiser participar por qualquer motivo, cabe ao 
professor envolvê-lo e ajudá-lo a superar as dificuldades que surgirem, 
seja em relação a timidez, seja em relação a habilidades de comunicação.
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/
 
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